Por que não também os 'flanelinhas'? 

Belém é invadida por “flanelinhas”

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Por que não também os 'flanelinhas'?

Diene de Fátima Ferreira
BELÉM - pARÁ
 

     O Ministério Público acaba de obrigar a Prefeitura de Belém a retirar das vias públicas todos os camelôs que comercializam CDs e DVDs piratas nesta cidade. No entanto, há de se convir que, infelizmente, tais camelôs são vítimas de um problema social que a cada ano vem se tornando cada vez mais eminente em nossa sociedade: o inchaço do mercado formal de trabalho, associado à oferta de um salário-mínimo cada vez mais insuficiente para suprir as necessidades básicas de uma família, como a saúde, educação e lazer.

     Mas será que só esses camelôs são os grandes vilões de nossa sociedade, dignos de uma fiscalização tão ostensiva por parte de nossas autoridades policiais? O que dizer, então, dos 'flanelinhas', integrantes de uma famigerada classe de marginalizados sociais que, de forma mais explosiva que os camelôs, dominaram os espaços públicos de nossa capital?

     Assim como aqueles camelôs cometem crimes de violação à propriedade intelectual e sonegação fiscal, os 'flanelinhas', no mínimo, cometem três tipos de crimes: constrangimento (pois mal chegamos para estacionar nossos carros e já somos torturados psicologicamente para 'comprar' aquela vaga); extorsão (porque somos obrigados a pagar por aquela vaga pública, face aquela tortura psicológica daquele 'manobrista' à nossa frente) e ameaça (caso deixarmos de pagar por aquele estacionamento público, corremos o risco de ter nossos carros danificados na próxima vez que precisarmos daquela vaga). Portanto, não seriam os 'flanelinhas' tão criminosos quanto os camelôs que comercilizam produtos pirateados?

     Nós, motoristas, que pagamos em dias nossos impostos, assim como temos deveres com o erário, temos direitos de usufruir, com segurança e de forma gratuita, dos estacionamentos em vias públicas sem sermos importunados por indivíduos que se autointitulam donos dessas vias. Temos, ainda, direito ao apoio policial para proibir o comércio ilegal desses estacionamentos públicos. Afinal, se estacionarmos em locais proibidos, não seremos punidos por transgressão ao Ctbel? Por que, então, somos obrigados a comprar vagas em locais públicos não-proibidos, porém dominados por 'flanelinhas'?

     Faço um apelo ao MP para que, assim como tenta combater a pirataria em Belém, nos ajude a termos nossos direitos de estacionar nossos veículos em quaisquer vias públicas, sem termos de pagar, sob pena de sermos constrangidos, extorquidos ou ameaçados por aqueles flanelinhas.

     Se a justiça tem que ser para todos, então que não somente combatam os camelôs ilegais, mas também as ações criminosas desses 'flanelinhas' que são tão transgressores da lei, como nocivos aos contribuintes proprietários de automóveis. Se as autoridades policiais não nos apoiarem, a quem deveremos recorrer? (Jornal O Liberal - Edição de 03.06.2006)

Belém é invadida por “flanelinhas”

 

Dois mil guardadores de veículos estão espalhados por ruas e avenidas da cidade. Muitos são alvos de críticas dos motoristas, que reclamam das ameaças e dos furtos.

 

     Espalhados por quase todos os cantos da capital paraense, com flanelas nas mãos, os guardadores de carros se multiplicaram. Segundo a associação que os representa, são mais de dois mil “flanelinhas” na cidade para desespero dos motoristas de veículos, que pagam por um “serviço” que nem precisam.

     Para muitos motoristas, é difícil aceitar que “essas pessoas tirem seu sustento oferecendo trabalho inútil à força - vigilância de carros sem garantia alguma - ganhando dinheiro com ameaças veladas”, diz o advogado Pedro do Nascimento. “O problema é geral e está ficando sério. Uma vez me senti realmente ameaçado na Benjamim com a Mundurucus. O flanelinha estava mesmo disposto a impedir a saída do nosso carro. Ele começou a discutir com a minha esposa. Acalmei os ânimos e, depois de achar umas moedas soltas, conseguimos sair do lugar”, conta.

     A enfermeira Leila Corrêa também passou por uma situação difícil ao estacionar seu carro na avenida Bernardo Sayão, às proximidades da Praça Princesa Izabel, no bairro da Condor. “Estava com umas amigas e quando procurei na bolsa algum trocado, percebi que só tinha 20 centavos. Agradeci e entreguei as moedas ao garoto que estava reparando o carro. Ao receber as moedas, ele fez uma cara feia e jogou tudo no chão. Fiquei indignada. Por sorte, tinha um policial perto. Contei tudo a ele, que fez o garoto juntar tudo do chão e me devolver”, lembra. Para não ter que passar pela mesma situação novamente, Leila prefere sair sempre com dinheiro trocado, ou simplesmente, sair sem pagar.

     Recém-contratado para trabalhar numa loja, na avenida Presidente Vargas, o gerente Paulo Sérgio Menezes ficou supreso quando foi informado pelo guardador de carros da Praça da República, que teria que pagar R$ 10 por semana para deixar seu automóvel “com segurança” naquele lugar. “Ele me explicou que todas as pessoas que deixam o carro ali pagavam esse valor porque tratam-se de ‘pessoas importantes’ e se eu quisesse poderia pagar tudo no final do mês. Não tive reação. Passei uma semana indo trabalhar de ônibus até conseguir estacionar na casa de um amigo meu, que fica um pouco longe do meu local de trabalho, mas foi o único jeito de não ter que pagar os R$ 30 por mês”. Para ele, o pior é que os flanelinhas não podem ser responsabilizados por qualquer dano causado ao carro. “Pagamos uma espécie de aluguel por deixar o veículo naquela vaga, porque se roubarem um pneu ou uma calota, com certeza, eles não vão ver, nem saber quem foi e muito menos vão pagar”, diz.

Associação diz que a categoria enfrenta o preconceito

     O vice-presidente da Associação dos Lavadores e Guardadores de Carros, Miguel Queiroz, afirma que esses profissionais sofrem muito preconceito. “Existem aqueles que bebem e que andam sem camisa e que fazem coisas erradas, mas são uma minoria, como acontece em todas as profissões, só que no nosso caso sofremos mais preconceito, e por um, acabam pagando todos”, afirma.

     Miguel trabalha há 16 anos reparando carros na Praça da República. Foi indicado pelo tio, que trabalhou por mais de 30 anos no local. Ele estudou até a 7ª série do ensino fundamental, fatura, em média, de R$ 10 a R$ 15 por dia e cerca de R$ 300 por mês. Trabalha de domingo à sexta-feira, das 8 às 18 horas. Mas acha que o que ganha não compensa o trabalho. “As pessoas nem falam com a gente, não colaboram com o nosso trabalho e tem umas que nem ao menos agradecem por repararmos o carro. Muitas pessoas já chegam nos tratando com ar de autoridade”, ressalta.

     Ele conta que nunca teve qualquer problema com os veículos que toma conta e garante que o seu trabalho é importante. “Todos os lugares hoje em dia são perigosos para se deixar o carro, até mesmo a garagem de casa. Outro dia, estava vigiando um carro e vi quando o motorista que chegou, roubou a calota do outro carro que era igual a sua. Quando o dono do carro chegou contei pra ele, que foi em cima do cara. O ladrão era advogado. Isso é para você vê que existem pessoas desse tipo em todas as profissões”, diz.


     Miguel também trabalha vendendo roupas e afirma que não pretende ficar nas ruas para sempre. “Estou correndo atrás de outras coisas. Acho que ninguém trabalha como flanelinha porque quer”. Para ele, a categoria seria melhor tratada e o trabalho deles fosse fiscalizado. “Acho que falta educação por parte de alguns guardadores de carros é complicada, porque muitas vezes lidamos com médicos, advogados, pessoas importantes”, opina. Ele afirma que a associação nada pode fazer quanto a isso porque está sem condições financeira de fazer um trabalho melhor. “Cobramos uma taxa de R$ 2 por semana, mas acho que nem chega a cem o número de pessoas que pagam”, conta.

     Bilhete - Os guardadores de carros da Avenida Braz de Aguiar, onde funciona o sistema de Bilhete Azul, implantado pela Prefeitura de Belém, têm um trabalho diferenciado do restante da cidade. “Compramos uma cartela com dez bilhetes por R$ 6 e vendemos por R$ 1 cada uma. Com isso, ganhamos R$ 0,40 por bilhete”, conta o flanelinha Reinaldo Souza. Há cinco anos ele trabalha na Braz, de segundo a sábado, sempre das 8 às 15 horas e ganha, em média, R$ 150 por mês. Para ele, o sistema tem um lado positivo e outro negativo. “É ruim porque passamos a ganhar menos, em compensação todas as pessoas que estacionam aqui têm que pagar, o que não acontecia antes”, diz.

     Para ele, o bilhete azul ajudou a organizar e a tornar o trabalho deles mais respeitado. “Agora as pessoas colaboram mais com o nosso trabalho”, acredita.

Guardadores afirmam que são humilhados nas ruas

     O flanelinha José Queroz trabalha há 12 anos, na Praça da República. Foi levado para o local por seu irmão com a promessa de que poderia faturar algum dinheiro, já que estava desempregado. De fato, ele está conseguindo se manter ganhando cerca de R$ 10 a R$ 15 por dia e até R$ 400 por mês. Ele trabalha das 7 às 13 horas de domingo à sexta-feira, mas diz que, em breve, pretende sair das ruas, porque acha que a categoria sofre muito preconceito. “Tem gente que nem agradece, já olha pra gente com cara feia. Somos discriminados porque tem gente que rouba e diz que é flanelinha”, afirma. José conta que pretende continuar seus estudos, interrompidos na sexta série do ensino fundamental, no ano que vem. “Quero ver se consigo um emprego melhor”, afirma. 

      Outro flanelinha, que prefere não dizer seu nome, conta que o preconceito vem tanto da sociedade quanto da Polícia. “Sempre fui direito. Guardo tudo o que ganho para comprar comida e roupa para minha família. Um dia, saí de casa com R$ 50. Não deu outra. A polícia me parou, me revistou e tirou o dinheiro dizendo que eu tinha roubado. Fiquei revoltado. Desde aí, não dou refresco pra ninguém, pisou em mim, leva”, diz.

     Ele conta que já chegou a discutir com alguns motoristas, principalmente aqueles que gostam de mandar ele procurar emprego. “Não tive chance de estudar. Sou de uma família muito pobre. Mas entre ficar pedindo na rua e trabalhar como flanelinha não tenho dúvida que fico com a segunda opção. Muita gente não entende e acha que estamos trabalhando na rua porque queremos. Mas não é bem assim. Acredito que ninguém gosta de ser maltratado, humilhado por pessoas que acham que são superiores a nós. É muito ruim isso”, afirma.
 
(Jornal O Liberal - Edição de 03.06.2006)

AMEAÇA

      Motorista estacionou o carro na Castilhos França no início da tarde de terça-feira, dia da estréia do Brasil na Copa. Mal desceu do veículo foi abordado por um flanelinha. "Você não vai demorar, né?. Eu só fico aqui até as três horas e meia. "Tudo bem, mas eu não tenho tanta pressa", respondeu o motorista, sem entender a estranha interpelação. "Se você se atrasar, eu não me responsabilizo pelo que acontecer com seu carro", retornou o flanelinha. Aí, sim, caiu a ficha e o cidadão entendeu a ameaça.  (O Liberal, Cotidiano, ed. 15.06.2006). 

Polícia vai fiscalizar guardadores de carros

As polícias Civil e Militar de São Brás deram início ontem a uma série de ações preventivas que têm por objetivo coibir a ação de flanelinhas acusados de ameaçar e constranger os proprietários de veículos que utilizam o acostamento das ruas mais movimentadas do bairro para estacionar. Segundo o delegado José Maria Pereira, da Seccional de São Brás, o número de queixas contra os flanelinhas aumentou consideravelmente nos últimos cinco meses. Uma operação semelhante já está sendo realizada pelos policiais miltares da 2ª Zona de Policiamento nas redondezas de alguns colégios particulares, em São Brás.

Um dos casos citados pelo policial aconteceu anteontem, quando o flanelinha Deuzo Barroso de Freitas, de 26 anos, foi conduzido à Seccional de São Brás depois de ameaçar uma funcionária pública que trabalha na Secretaria Estadual de Cultura (Secult), no Parque da Residência, na avenida Magalhães Barata. A mulher estava assustada e preocupada com as conseqüências de sua atitude. 'Mas era algo que eu precisava fazer. Preciso trabalhar e, por isso, não tenho como me ausentar daquele local', completou.

Em seu depoimento ao delegado José Maria Pereira, na tarde da última quinta-feira, a funcionária pública, cuja identidade foi mantida em sigilo por segurança, disse que na noite de quarta-feira passada o flanelinha já a tinha ofendido com palavrões depois que ela saiu em seu carro sem lhe dar dinheiro. 'No dia seguinte, quando estacionei e desci do carro para ir trabalhar, ele bateu no meu ombro e disse que ‘não se responsabilizaria pelo que poderia acontecer com o meu carro’ por eu não ter dado dinheiro para ele. Eu perguntei se ele estava me ameçando e ele disse que ‘estava apenas me avisando’. Foi quando eu resolvi procurar a Polícia', contou a vítima.

Apesar de ter negado as acusações, Deuzo Freitas foi indiciado em Termo Circunstancial de Ocorrência (TCO) por ter ameaçado a proprietária do veículo. (O Liberal, Polícia, ed. 01.07.2006). 

Flanelinha incendeia táxi e confessa o crime

O taxista Joel dos Reis compareceu à Seccional de São Brás, na tarde de ontem, para denunciar um incêndio criminoso provocado no seu veículo Gol, de placas BKE 7318, que estava estacionado há cerca de seis meses na Praça da Leitura, ao lado do Terminal Rodoviário, em São Brás. O autor do delito, diz a v´tima, foi o flanelinha Olivaldo Pereira dos Santos, de 31 anos, que também aparenta sofrer de distúrbios mentais. O veículo, que estava apenas sem motor, foi completamente destruído pelo fogo.

O fato foi registrado em Boletim de Ocorrência Policial (BOP) assinado pelo delegado Carlos Alberto. Segundo ele, o fato será transformado em inquérito policial caso as investigações levem a uma segunda pessoa, alguém que tenha induzido o incendiário a praticar o ato. 'Como o acusado aparenta ter problemas mentais, é possível que alguém o tenha induzido a cometer tal erro', suspeita Carlos Alberto.

Indagado pelos investigadores, o acusado disse que cumpriu ordem proferida por uma pessoa identificada por 'Roberto', dono de um bar próximo ao local onde o carro estava estacionado. O acusado disse, inclusive, que recebeu um pouco de gasolina para cometer o delito. A reportagem de O LIBERAL confirmou que há um bar cujo proprietário chama-se Roberto, naquela área. (O Liberal, Polícia, ed. 01.07.2006). 

                       

12.06..2006

Fonte: Jornal O Liberal - Edição de 03.06.2006

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