JUDICIÁRIO, MP E POLÍCIA |
Editorial
Pesquisa
da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) revela dados
assustadores. Um deles: 43,6% não sabem a diferença entre o Ministério
Público e o Poder Judiciário. Outro: ao lado das Forças Armadas, a Polícia
Federal (PF) aparece como a instituição mais confiável para 75,5% dos
entrevistados. Por
que dados como esses assustam? Por razões várias, duas delas principais. Primeiro,
por causa do alto índice de desconhecimento sobre o que fazem a Justiça
e o Ministério Público. Esta é uma realidade. E não é só o cidadão
comum que não sabe. Até jornalistas ignoram o que são um e outro. Por
isso estão a dizer - e a escrever - que juiz profere parecer ou que o MP
mandou alguém fazer alguma coisa. Juiz não dá parecer sobre nada; isso
é função de membros do MP. E nem o Ministério Público manda ou deixa
de mandar - no máximo, recomenda; o MP pede, quem manda é o Judiciário. A
segunda razão é decorrente da primeira. Por que o tão elevado grau de
confiabilidade da Polícia Federal? Por causa das operações que tem
desencadeado no País todo. E por que a PF, e apenas ela, cai no gosto da
população? Porque a população, justamente, não sabe o que faz a Justiça
em todos os seus âmbitos. Se
a população soubesse o mínimo das atribuições do Judiciário, saberia
que as operações da Polícia Federal e das polícias estaduais só se
realizam porque a Justiça autoriza. Sigilos de suspeitos de crimes são
quebrados apenas mediante autorização judicial. Prisões - no caso
dessas operações - são efetuadas apenas porque a Justiça manda
prender. E
quem manda soltar? Também é o Poder Judiciário. Mas como a libertação
do suspeito do cometimento de um crime revolta meio-País, então o que
fica registrado é que a Polícia prende, mas o Judiciário apenas solta.
Fica registrado apenas que a Polícia está na linha de frente no combate
a corruptos de todos os calibres, enquanto o Judiciário ficaria na
retaguarda, apenas para protegê-los. Fica registrado no inconsciente da
população que, enfim, a Polícia é o antídoto contra todos os males
que a corrupção dissemina; o Judiciário, de outro lado, desponta como o
que está permanentemente de plantão para acobertar impunidades de toda
sorte. Por
que o Judiciário fica a reboque da Polícia e do próprio Ministério Público
em situações dessa natureza? Porque o Judiciário se comunica
pessimamente. Nas operações policiais, a Justiça poderia chamar a
Imprensa e dizer: 'Eu autorizei, eu mandei quebrar sigilos, eu mandei
apreender documentos e equipamentos, eu mandei arrombar, eu mandei prendei
e, se for o caso, eu mandarei soltar. A Polícia apenas cumpriu minhas
ordens.' Mas
não. O que acontece, em regra? O delegado é quem dá a entrevista. O
juiz fica em seu gabinete, enclausurado inclusive por certos dispositivos
legais que não lhe permitem falar sobre processos que estejam sob sua
apreciação. Enquanto isso, a Polícia fala; e quando fala, é sobre ela
mesma que fala, e não sobre a Justiça que a compeliu, que a obrigou, que
lhe mandou agir. Esse
dado que a pesquisa da AMB revela é dos mais relevantes. Requer atenção
máxima porque tem implicações institucionais graves. Se o cidadão não
sabe o que faz e o que deixa de fazer certa instituição, dificilmente
terá elementos consistentes para avaliar precisamente o papel que este ou
aquele órgão, esta ou aquela instância devem desempenhar. A César ou que é César: à Polícia o que é Polícia, ao Judiciário o que é dele e ao Ministério Público o que é do Ministério Público. O Brasil, neste ambiente de desregramento geral que assola a vida pública, precisa de instituições cada vez mais fortalecidas para ajudarem na assepsia geral que se pretende. Se a sociedade não sabe o que as instituições fazem, como confiar nelas? 28.09.2007 |
Fonte: Jornal "O Liberal" - 28.09.2007 - Belém - Pará |
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