AEROPORTO "MAESTRO WILSON FONSECA" |
VICENTE
JOSÉ MALHEIROS DA FONSECA
Desembargador Federal do Trabalho
Professor e Compositor
Poucos dias após o falecimento de meu pai, eu enviei a parlamentares paraenses, no Congresso Nacional, subsídios necessários à apresentação de Projeto de Lei, na verdade um Anteprojeto, com justificativa, dispondo sobre a denominação do Aeroporto de Santarém, em homenagem ao Maestro Wilson Fonseca (Isoca). Não dei preferência para nenhum parlamentar, até porque meu pai sempre viveu acima de disputas políticas, dedicando-se de corpo e alma à música e à literatura. Acolhendo a idéia, foram apresentados, na Câmara Federal, dois Projetos de Leis: o de nº 6.864/2002, pelo Deputado José Priante, em 23.5.2002; e o de nº 6.900/2002, pelo Deputado Nilson Pinto, em 04.6.2002. Receberam
aprovação em todas as Comissões a que foram submetidos. Ambos propõem a denominação “Aeroporto de Santarém – Maestro Wilson Fonseca”, em homenagem ao compositor santareno. É oportuno esclarecer que, até então, o atual nome do aeroporto é simplesmente “Aeroporto de Santarém”, ao qual agora deverá ser acrescentado o nome do Maestro Wilson Fonseca. Portanto, não se cogitou de retirar o nome de alguma personalidade para homenagear o maestro santareno, até porque esta hipótese certamente não se harmonizaria com os princípios preservados pela memória de meu pai. A propósito, peço vênia para transcrever trecho do parecer do Deputado Zé Lima, relator da Comissão de Educação, Cultura e Desporto, na Câmara Federal, in verbis: “A Comissão de Educação, Cultura e Desporto tem tido a preocupação de ser criteriosa quanto à prestação de homenagens, reservando-as a personalidades realmente representativas, que tenham um significado relacionado com o instrumento da homenagem. As duas iniciativas atendem a esse pressuposto, o que se reforça pela coincidência das propostas na sugestão a um mesmo nome reconhecidamente significativo, observando, portanto, o que estabelece o art. 1º da Lei nº 1.909, de 21 de junho de 1953, que dispõe sobre a denominação dos aeroportos e aeródromos nacionais, ressaltando-se ainda a manutenção da referência ao Estado, na denominação atribuída ao aeroporto de Santarém, segundo orientações do Comando da Aeronáutica”. Conforme ainda ressalta o citado parecer, “as duas proposições oferecem, em sua justificativa, amplas considerações a respeito da importância do Maestro Wilson Dias da Fonseca na vida cultural não apenas de Santarém, onde nasceu, mas de todo o Estado do Pará, sendo orgulho da cultura amazônica e da história da música brasileira, pelo singular exemplo de compositor praticamente autodidata”. Na justificativa que acompanhou um dos Projetos de Lei, na Câmara Federal, esclareceu-se que “é dever do Estado e da sociedade homenagear as pessoas que se destacaram em suas atividades, para exemplo das gerações atuais e futuras. Portanto, é mais do que justa e adequada a proposta que visa denominar o Aeroporto de Santarém (PA), a ‘Pérola do Tapajós’, com o nome de seu filho mais ilustre”. Acompanhei, desde o início, a tramitação desses Projetos na Câmara Federal, de maio de 2002 até dezembro de 2005, quando foi encaminhado ao Senado. O PL nº 6.864/2002 chegou ao Senado da República em janeiro de 2006 e ali foi protocolado sob o nº SF PLC 00007/2006, tendo sido relatado, na Comissão de Educação, pelo Senador paraense Luiz Otávio, que emitiu parecer favorável.
Lembro-me, com emoção, que assisti à sessão legislativa pelo Canal Senado, na televisão. E quando o Presidente do Senado proclamou o resultado, me veio à memória a figura de meu saudoso pai, íntegro, humilde e sábio. Certamente, feliz!
Quando isto acontecer, o Aeroporto de Santarém denominar-se-á, oficialmente, “Maestro Wilson Fonseca”. A luta pela aprovação de um Projeto de Lei é intensa e depende de muitos contatos com parlamentares e assessores. É um trabalho silencioso e paciente. Mas
o espírito de Wilson Fonseca prevaleceu sobre todas as dificuldades. Wilson
Fonseca ainda não é tão conhecido pela mídia. Foram 4 anos de empenho
no Congresso Nacional, onde os interesses políticos nem sempre coincidem
com os ideais da cultura e da arte. Neste ano, no dia do aniversário do Maestro (17 de novembro), haverá festa em Santarém. Naquela data deverá, enfim, ser lançado o livro “Meu Baú Mocorongo” (de meu pai – uma obra escrita desde quando papai tinha 16 anos de idade, até o final de sua vida terrena), com quase 2.000 páginas, em 6 volumes impressos, sob os auspícios do Governo do Estado do Pará (Seduc/Secult). A meu ver, uma autêntica enciclopédia da história de Santarém. Também será realizado um concerto inédito da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, com músicas de meu avô José Agostinho da Fonseca, de meu pai e de minha autoria, graças à iniciativa de Gilberto Chaves, Diretor do Theatro da Paz. No programa musical, além da 5ª Sinfonia de Beethoven, consta o arranjo orquestral que eu elaborei para o schottisch “Idílio do Infinito”, de meu avô José Agostinho da Fonseca (o “músico-poeta”), em comemoração ao centenário de sua chegada em Santarém (1906), quando ele fez a sua primeira composição, considerada a pioneira da “música santarena”. De Wilson Fonseca, uma peça orquestral inédita: “América 500 Anos” (poema sinfônico, 1992), que terá a sua primeira audição executada em Santarém, pela OSTP, naquela mesma ocasião, fato que reputo histórico. E, ainda, um arranjo orquestral que preparei para a “Canção de Minha Saudade” (música de Isoca e letra de Wilmar Fonseca – 1949), considerada o “hino sentimental” de Santarém. E,
de minha autoria, a “Sinfonia do Tapajós”, que deverá ser
apresentada, também em primeira audição, na minha terra natal, pela
Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, na mesma ocasião. Fica, desde logo, lançada a idéia, para apreciação da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (INFRAERO), do Governo do Estado do Pará e da Prefeitura Municipal de Santarém. Lembro-me de que meu saudoso pai saiu de Santarém, passando pelo aeroporto da cidade, em janeiro de 2002, a fim de ser homenageado no histórico “Encontro com Maestro Isoca”, um recital realizado, em Belém, no Art Doce Hall, em 08.01.2002, gravado em CD. O disco, editado pela Prefeitura Municipal de Belém (administração Edmilson Rodrigues), leva o mesmo nome do recital, idealizado pela Profª Glória Caputo e por mim organizado. Meu pai esteve presente nesse evento musical, o último em sua homenagem, enquanto vivo, realizado na capital paraense. Ele chegou a chorar após a apresentação do “Idílio do Infinito”, apresentado logo no início daquele recital, na interpretação de seu neto José Agostinho da Fonseca Júnior (Tinhinho), meu sobrinho, que se revezou no oboé, saxofone-alto e piano, instrumento que tocamos a 4 mãos, com um arranjo que criamos especialmente para a ocasião. Um pouco mais de dois meses depois, meu pai, falecia em Belém (24.3.2002), e retornava morto à nossa terra tão querida, onde foi sepultado, em 26.03.2002, sendo recepcionado pela população logo no aeroporto de Santarém. Wilson Fonseca, então, recebeu homenagens do povo santareno. Seu esquife foi conduzido pelo Corpo de Bombeiros, em comovente cortejo fúnebre, desde o aeroporto até a Catedral, ao som de suas composições. O evento lembra das homenagens ao Presidente Tancredo Neves e ao piloto Ayrton Senna. Recordo-me da emoção com que as crianças cantaram, à capella, o bolero “Um Poema de Amor”, precisamente no momento em que o féretro passava bem em frente à Escola de Música “Wilson Fonseca”, em Santarém, ali permanecendo por quase meia hora. Os jovens, todos uniformizados, encontravam-se do lado de fora da escola, na rua, próximos à calçada, e, ali mesmo, começaram a cantar esta música, de modo muito espontâneo (quase de surpresa, sem que ninguém esperasse). E o interessante é que eles não queriam mais terminar de cantar. Esta música foi cantada umas doze vezes, mais ou menos. As pessoas começaram a perceber que muitas crianças choravam copiosamente durante o canto. As lágrimas dessas crianças a todos comoviam. Foi um dos momentos mais emocionantes de minha vida. Nunca vi coisa igual. “Recordar é sofrer mais...” (como diz Isoca em sua bela canção “Terra Querida”). E ainda vinha mais emoção. Nem sei como consegui tocar, na missa de corpo presente, na Igreja de N. S. da Conceição, em Santarém, a composição que fiz, em homenagem póstuma a meu pai (“Lira Iluminada” – Valsa Santarena nº 51), cuja partitura ainda reuni forças para depositar bem pertinho do coração do “velho”, na hora da partida...
LEI Nº 11.338, DE 3 DE AGOSTO DE 2006. Denomina “Aeroporto de Santarém - Pará - Maestro Wilson Fonseca” o aeroporto da cidade de Santarém - PA. D.O.U. de 4.8.2006\ 06.08.2006 |
Fonte: Jornal Uruá-Tapera (Gazeta do Oeste) |
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